Segundo o pastor Dejair foi tudo muito rápido

O pastor Dejair Batista Silvério, de 60 anos, afirmou na noite deste domingo, dia 18, que a filha dele Sara Lima Silvério, de 18 anos, e a amiga Zélia Magalhães de Mello, de 45, foram sequestradas no Egito após beduínos “metralharem” o ônibus onde eles estavam, a caminho do Monte Sinai.

O grupo de 42 pessoas estavam em uma excursão e fazem parte da Igreja Evangélica Avivamento da Fé, que tem sede em Osasco, na Grande São Paulo.

Os turistas brasileiros haviam saído do Cairo e tomado uma estrada rumo ao Monte Sinai. “De repente, dois carros ultrapassaram o ônibus e eles desceram atirando. Foram vários disparos, de metralhadora e de fuzil. Eles atiraram na porta do ônibus. Achei que estavam até atirando na gente já. Foi então que eles entraram no ônibus e levaram as duas para fora”, disse o pastor.

Silvério disse não saber o porquê da escolha das duas. “Foi muito assustador. A gente pensou que fosse um assalto”, afirmou. “No começo, a gente achou que eles iam usar as duas como reféns para roubar as pessoas do ônibus”.

O ônibus foi interceptado por um grupo de beduínos que sequestrou, além das duas brasileiras, o segurança do ônibus, que é egípcio e estava armado, segundo fontes do Itamaraty.

Os sequestradores colocaram os reféns em um carro e fugiram para uma região montanhosa, segundo autoridades egípcias.

Os demais brasileiros que estavam no veículo foram escoltados por duas equipes das Forças Armadas egípcias para um hotel perto do Monte Sinai, segundo Silvério.

O pastor disse que um general egípcio garantiu que a filha dele ia ser libertada e levada ao hotel até as 22h. “Assim que aconteceu o sequestro, ele tomou conta do caso, reuniu vários líderes beduínos e falou para mim: ‘Eu empenho a minha palavra, a minha honra, que às 22h estarei com as duas aqui”, disse.

A libertação dos reféns

O encontro da brasileira Sara com a família foi marcante. "Foi uma experiência incrível, porque acrescentou à minha fé", disse

Na mesma noite os reféns foram libertados. Uma das brasileiras sequestradas no Egito, Sara Lima Silvério, de 18 anos, disse que foi bem tratada pelos beduínos, que a levaram para um vale no meio do deserto. ”Não me tocaram. Não molestaram nenhuma de nós. Eles não foram agressivos com a gente”, disse, após chegar ao hotel escoltada por generais do Exército egípcio. Ela e a amiga Zélia Magalhães de Mello, de 45, foram libertadas sem ferimentos do cativeiro após negociações.

“A gente foi tirada do ônibus, colocada dentro de um carro. Levaram a gente para o meio do deserto, no Vale do Sinai. Lá eles colocaram um tapete no chão, a gente sentou e eles deram várias cobertas. Depois, serviram chá, serviram comida”, contou ao G1, por telefone, do Egito.

Segundo ela, quando iam ao banheiro, os sequestradores não a acompanhavam, preservando a intimidade. “A gente orou por nove horas, desde o momento em que fomos levadas até o momento em que chegamos ao hotel”.

A jovem disse que o guia sequestrado junto ajudou na comunicação, traduzindo o que os beduínos perguntavam. “Eles sempre perguntavam se a gente estava com frio, fome e falando que tudo ia ficar bem”, relatou. “A gente só achava que ia acontecer alguma coisa quando eles começavam a falar muito alto. Mas a gente não chorou, não gritou, manteve a calma”, disse.

Sara definiu o reencontro com a família como “lindo”. O pai, a mãe e a irmã aguardavam a chegada dela no hotel perto do Monte Sinai. “A gente começou a dançar. Todo mundo abraçou a gente. Foi uma experiência incrível, porque acrescentou à minha fé. Fiquei muito feliz de ver todo mundo”.

Terceiro caso

Vários casos parecidos, envolvendo estrangeiros, ocorreram na região em 2012. Em fevereiro, beduínos sequestraram três turistas sul-coreanos, pouco depois de um crime similar contra duas americanas e um guia egípcio, com a exigência de libertação de companheiros detidos.

O deserto é a moradia de maior parte da pobre população beduína

Os turistas e o guia foram libertados rapidamente e sem ferimentos, assim como 25 trabalhadores chineses que haviam sido sequestrados em janeiro e que ficaram cerca de 20 horas como reféns.

Beduínos foram presos por conta de envolvimento em atentados praticados na região entre 2004 e 2006, que mataram cerca de 130 pessoas.

Além de pedir a libertação dos companheiros, os beduínos também relatam descontentamento em relação à maneira como são tratados pelo governo provisório egípcio, no poder desde a queda do ditador Hosni Mubarak no ano passado.

Os beduínos pegaram em armas para ajudar a rebelião que derrubou Mubarak, mas consideram que não foram recompensados por isso pela junta militar egípcia. O fato aumentou a tensão e a violência na região, com com ataques a delegacias de polícia e explosões frequentes contra oleodutos que levam gás ao vizinho Israel.

A pouco habitada região abriga a maioria dos luxuosos resorts egípcios, ao mesmo tempo que é o local de moradia de grande parte da pobre população beduína.

Fonte: G1